Tenho um amigo que acha que todos os concursos públicos estão viciados, corrompidos, que só existem para colocação de quem já está lá dentro ou para colocar amigos e família do presidente da câmara ou outros dirigentes. Obviamente que discordo dele pela formulação apresentada, pois a generalização que lhe está subjacente, como todas as generalizações __sobre seja o que quer que seja__ é perigosa, falaciosa e pode ter consequências bastantes funestas, porque se fundamentam em clichés, preconceitos e lugares comuns. No entanto, e não sendo para dar razão ao meu amigo, não posso deixar de não publicar este post. Então, a história é a seguinte: ainda está a decorrer um concurso público lançado pela Câmara Municipal de Oeiras, portanto ainda on-line no respectivo site, que envia directamente para o DR, 2ª série-nº89-8 de Maio. Não vou transcrever todo o anúncio, apenas o que interessa:
3- Caracterização do posto de trabalho:
Exercer com autonomia e responsabilidade de funções consultivas, de estudo, planeamento, concepção, avaliação e aplicação de métodos e processos de natureza técnica e/ou científica, que fundamentam e preparam a decisão correspondente ao grau de complexidade 3, nomeadamente as seguintes actividades: Aplicar os conhecimentos e métodos inerentes à sua qualificação profissional, nomeadamente quanto à realização de tarefas que lhe venham a ser propostas relacionadas com a promoção da Arte e Cultura.
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7- Área de formação académica ou profissional: Filosofia.
Ora, aqui é que tudo começa a escurecer. Como se o grau de licenciatura em Filosofia, só por si, conferisse uma aptidão especial e iluminada para a Arte e a Cultura. A apetência para a cultura não está ligada a nenhum grau académico, porque existem os autodidactas, os desejosos de estar sempre a aprender e que têm uma curiosidade devoradora pelo mundo que os rodeia, e isto não está ligado a nenhuma licenciatura em particular. Conheci um rapaz que (penso) não chegou a concluir o 9º ano e que possui uma cultura muito, muito acima da média, não há nada nem ninguém que ele desconheça de literatura, pintura, música. Em contrapartida, nos dois anos que fiz de Filosofia encontrei pessoas incultas: não abriam um livro para além dos obrigatórios no curso, não frequentavam salas de cinema ou teatro, não iam a uma exposição ou visitavam um Museu...
O mesmo tipo de reflexão, mas de uma forma divertida, deu origem a este texto, da autoria da Ana Amaro, licenciada em Filosofia, variante História das Ideias, e que mo enviou por mail, e posteriormente me deu permissão de o publicar. Tem private joks, mas isso não tem importância. Cá vai:
"Estive a pensar seriamente e conclui que:
a vaga para licenciados em filosofia aberta em Oeiras pode ser:
um fetiche supremo do presidente da Câmara de Oeiras, por considerar que:
a) As meninas de filosofia ficam mais bonitas nos jardins da cidade
b) As meninas de filosofia são flores garridas que embelezam a comunidade
c) As meninas de filosofia sabem rimar (ver a) e b))
d) As meninas de filosofia sabem (a)mar
e) As meninas de filosofia sabem o mesmo que os outros, mas parece que sabem mais
f) As meninas de filosofia gostam da pizzaria que existe no jardim ao pé do mar
g) As meninas de filosofia dominam áreas como cultura, desporto e lazer
- As meninas de filosofia são virtuosas ou moram perto de palácios que anseiam por obras de restauro
- As meninas de filosofia fazem com dificuldade o pino e notas de rodapé mas sabem que ser-o-aí, não é só estar na estação à espera do comboio
- As meninas de filosofia nunca fazem só filosofia, fazem logo qualquer coisa a seguir, para fingir que querem arranjar emprego noutra área e não idolatram alguns professores, curvando-se em delírio (Susana-Caeiro) ou em respeito (...)
- As meninas de filosofia compreendem a lógica da coisa
- As meninas de filosofia são vegetarianas, logo, espiritualmente dotadas de grande equilíbrio
- As meninas de filosofia são jovens em movimento com sensibilização ambiental
- As meninas de filosofia reconhecem que Oeiras é um Concelho com CÊ!
- As meninas de filosofia sabem, melhor do que ninguém, que requalificar é qualificar outra vez
- As meninas de filosofia não têm paciência para terminar de substituir os tracinhos por letrinhas e por isso são especiais
Ui.. e se, numa hipótese muiiittto remota..for CUNHA!? "
Ui.. e se, numa hipótese muiiittto remota..for CUNHA!? "
3 comentários:
Além de Cunha de apelido, há o apelo da Cunha. Sempre houve e haverá, por mais que nos esforcemos a acabar com elas. Reproduzem-se como coelhos,só que não tão ternurentos......
A cunha tem muito que se lhe diga. Toda a gente está disposta a condená-la e a apontá-la como uma das causas do atraso de Portugal, mas poucos, na prática, passam sem ela. É que a cunha não é um acto de corrupção, como enfiar notas na mão de um autarca. É, de forma bem mais cândida, driblar a máquina burocrática, pedir pequenos favores para o primo que é óptimo rapaz, tentar muitas vezes ajudar quem efectivamente precisa.
Mas, claro, de cunhas bem-intencionadas está o inferno cheio.
o problema da cunha é o das generalizações. como não há estatísticas, não podemos ter a noção exacta do que se passa. penso que antes de mais é preciso separar as águas entre o público e o privado, onde de facto o primo do tio do cunhado, que é um óptimo rapaz tem mais chances de entrar, o problema residirá no facto de ele não ter habilitações próprias para o cargo...se vamos para casos particulares, então vamos: toda a gente que conheço no sector público, e são bastantes, entrou sem cunhas, e em sítios de domínios aparentemente vedados impenetráveis a não-familiares do alberto joão jardim, como a Madeira...
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