domingo, 31 de janeiro de 2010

Quem é que disse que os portugueses eram pessimistas??

Pessimistas podem ser, mas têm um talento especial e subtil para animar os outros, o que retirará a este pessimismo um certo absolutismo de verdade incontestável. De vez em quando emergem estudos feitos por especialistas, ___não se sabe de que área científica, nem com que amostragem, nem com que metodologia, mas também, não isso interessa nada__ que chegam à conclusão que os portugueses são pessimistas, soturnos e consomem embalagens massivas de antidepressivos. Discordo em absoluto das conclusões destes peritos. Se há povo que sabe como levantar o ânimo e o moral do próximo, esse povo é o português.
Ora, se há coisa que desperte a curiosidade é um braço envolto em ligaduras e ao peito.

__ O que é lhe aconteceu?
__ Queimei-me com água a ferver.
__ Se fosse óleo de fritar era muito pior!


__ O que lhe aconteceu?
__ Queimei-me com água a ferver.
__ Se tivesse partido, era muito pior!

__ Então, o que foi isso? 
__ Queimei-me com água a ferver.
__ Foi muita?
__ Um púcaro, para fazer uma caneca de chá.
__ Se fosse uma panela de água a ferver era pior!

E, a alma lusa fica reconfortada.
As salas de espera das urgências hospitalares são também um microcosmos de traços do nosso comportamento colectivo onde brota ao de cima o que temos de melhor, entre outras, a tal capacidade animar o próximo. Sentimentos de culpa são imediatamente dissolvidos em histórias semelhantes, para que o outro não se sinta só no mundo, carregando o pesado fardo. À mãe que sem querer deixou caír o aparelho de inalações em cima do pé do seu bebé, imediatamente se vai buscar a história da mulher do tio do primo do cunhado do sogro do vizinho de baixo, a quem aconteceu a mesmíssima coisa, ou à irmã que entalou a cabeça do dedo do irmão ao fechar o sofá, acidentes domésticos em que ninguém tem a culpa, mas todos se sentem culpados. Aliás, aquela sala de espera parecia o Vale da Culpa. À rapariga __cujo marido lhe tinha pedido para o ir levar ao trabalho e ela não foi e pouco depois teve um acidente de mota, e se sentia culpada por não acedido ao pedido__, perguntavam-lhe se ele não andava todos os dias de mota. Ainda o mesmo malogrado rapaz foi arrastado pela mota, tinha queimado as palmas das mãos, as pernas, tinha ossos à vista, mas acrescentou a mulher:__ Não tem nada partido, e logo um pequeno coro: Graças a Deus! Ora, digam lá se há no mumdo alguém capaz de animar alguém desta maneira?
Queria ainda falar de horários e atendimentos de serviços públicos de saúde. Os Centros de Saúde possuem um Atendimento Complementar, para tratar de casos que não necessitem de intervenção hospitalar e até para descongestionar o tempo de espera nas urgências.Foi ao final da manhã de sábado que me queimei com água a ferver, e como fiz logo bolhas, me estava a doer, e cada vizinha dava a sua sentença, decidi ir ao Atendimento Complementar do Centro de Saúde da minha área. Surpresa. O Centro fecha às duas. Bonito. Aliás, parecia uma cena de filme, portões fechados, barras de madeira nas portas, como se o cosmos inteiro me estivesse a fechar os portões.Não tive outro outro remédio senão ir às urgências hospitalares, esperar horas por uma coisa que poderia ter sido feita no Centro de Saúde, se ele estivesse aberto...Quanto ao atendimento em si, já dentro do gabinete médico, foi muito eficaz, rápido e muito profissional.
Naquelas andanças acabei por perder um anel de prata com uma pequena pedra, mas no meio daquele sofrimento, o anel acabou por perder importância e não me sentia com vontade de andar à procura do anel no meio  do pé queimado do bebé e a culpa da mãe, das pernas queimadas do rapaz de mota e a culpa da mulher e da própria dor da minha pele queimada. O que eu queria mesmo, era sair dali, o mais rapidamente possível. Foi o que fiz.       

20 comentários:

César Ramos disse...

Zoe,

E fez muito bem [vir embora]...! "vão-se os anéis,... que fiquem os dedos"!
Não está bem adaptada a frase à situação, mas o importante foi sumir daquele ambiente, pior do que qualquer doença!
Presumo que a foto do braço é sua e, imagino as voltas dadas para escrever este longo texto e fazer a "reportagem" fotográfica!
Queimaduras... é sofrido que se farta!
Agora, vai com tratamento e tempo!
Mas que droga!Um pucarinho!vejam só...
Paciência, e boas melhoras...

Um abraço

César Ramos

Zoe disse...

Olé César
Obrigada pelas melhoras.
O trambolho da fotografia é mesmo o meu braço, sim ainda lá tive ânimo para escrever, que de certa forma minimizou as outras dores.
Escrever alivia.
vou agora mudar o penso, espero que esteja melhor. dores não tenho, só no corpo,mas deu para vir trabalhar.
abraço
zoe

César Ramos disse...

Zoe,

Qual trambolho, qual carapuça! Como dizem os tais optimistas, se fosse um trambolho..., era muito pior!
C' est vrai! escrever alivia!... até as dores!
Quase como cantar... até que a voz nos doa!
Aqui, é escrever até que a dor do braço se vá...

É o espírito de missão.
(...)
Parabéns por esse espírito.

Desculpe-me, mas acho o chá um 'pouco perigoso'...!

A mim, a minha "mini" só me faz espirrar!

Vou agora buscar uma, e espero não apanhar nenhuma pneumonia.

Não envio um abraço por causa do «dói-dói», mas vai um 'tout à l'heure'!

Boa disposição,... apesar de tudo!

César

VagaMundos disse...

Pode sempre ser pior mas uma queimadura com agua a ferver não é pêra doce. Votos de rápidas melhoras.
Beijinhos

Ricardo e Regina Calmon disse...

Tadinha da Zoé ,amada miga nossa!
Breve breve a adoçar amigos seguidores teus,voltarás!

bzu mãos suas ,e flores todas do mundo,para dores suas aliviar!

Viva La Vida!

Zoe disse...

César
pois é, acho que uma mini não faz tantos estragos!
hoje fui mudar o penso,e já não tenho um trambolho, mas um trambolhito...além disso a mão está menos inchada,agora tenho é muita comichão
abraço
zoe

Zoe disse...

olá Vagas
pois é, não é pêra doce não,mas os comentários n deixam de ter a sua piada, os portugueses no seu melhor. obrigada pela atenção
zoe

Zoe disse...

viva ricardo
tem sempre palavras tão poéticas e tão mágicas! as flores cá chegaram e estão a suavizar as dores. obrigada!
zoe

Unknown disse...

Olá Zoe!
Espero que já estejas melhor!
Bjinhos
***

Zoe disse...

Olá Zélia
Obrigada pelo cuidado. Sim, estou a caminho de estar melhor para o Carnaval... e poder pegar nos copos de caipirinhas...sempre vens cá?
beijinhos
zoe

Luisa disse...

Zoe,
O que descreveu, é bem português.
Já percebi que se encontra melhor.
Como tem tratado dos seus meninos?
Beijinhos

Luisa

Zoe disse...

Viva Luísa
Andei de braço ao peito só sábado e domingo que foi para não inchar muito, deu para tratar da pequenada. Mas, este braço direito tem sido bastante sacrificado por outras maleitas anteriores e aprendi a ajeitar-me com a esquerda. Em necessidade extrema peço socorro, mas deu para aguentar.
Hoje fui mudar o penso, só n posso é molhá-lo.
obrigada pela atenção
zoe

Anónimo disse...

desculpe, mas não pude deixar de dar uma boa gargalhada com a sua apreciação aos tugas. Tal qual!
As melhoras rápidas.
PS: Deixe lá, podia ter sido pior... (rsrsrs)

Zoe disse...

pois é Carlos, animar a malta com a imagem de uma panela de água a ferver é recorrente!ou frigideiras de óleo a ferver!!!!! não deixa de ser eternecedora esta nossa faceta.

as melhoras estão a ser satisfatórias, apesar de ainda ter bolhas. obrigada pela atenção
zoe

LuisY disse...

Gostei do teu post. Muito bem observado

De facto, nós os portugueses adoramos falar de doenças. Os franceses quando não se conhecem bem falam de Vinhos. Nós, os portugueses, quando não temos assunto puxamos pelo tema das doenças e é um sucesso, pois todos querem participar da conversa e há sempre um que teve uma doença mais grave que a do outro.

Fui educado por um pai que considerava indecoroso conversar sobre doenças. Era um assunto tabu à hora das refeições. Embora não nos permitisse também falar de sexo à mesa, creio que acaba por ser mais tolerante com o tema sexualidade do que com o assunto "doenças"

Beijinhos

Luís M

Zoe disse...

Ora viva Luís Y, ípsilon de York, Yard, Young, fiquei curiosa, estou mortinha por saber, dir-me-ás ao vivo....

Pois é, os franceses falam de vinhos, os ingleses do tempo e os portugueses de oenças, e há nisto qualquer coisa de patológico!!!!

Pois eu fui educada por um pai que dizia que à mesa não se falava!!!! De sexo, não se falava em parte alguma da casa!!!! Essa tolerância vis-a-vis da sexualidade, se calhar era porque havia rapazes em casa, num gineceu era assunto tabu e proibido!
see you latter!

zoe

P.S. O meu post preferido é Com os holandeses que acompanha o video da querida e bem-amada Anne Frank

Carlota e a Turmalina disse...

Minha amiga querida...
Que horror!!! Refiro-me aos diálogos mesmo...acho que escutar coisas assim é pior do que ficar esperando para ser atendida...
Toda semana eu visito a filial que fica em outra cidade.E toda vez que lá estou aparece uma vizinha que sempre conta uma desgraça, ou se não mais.Juro que já começo à evitá-la...e olha que não sou disto.
Mas o que importa mesmo é que vc se recupere logo da sua dor!!!
Se bem que hoje já é dia 07/02 e vc já deve estar bem :o)
Bjoss

Zoe disse...

Viva Turmalina
Quando não há assunto os portugueses adoram falar de doenças. Penso que é um traço __bastante patológico, diga-se de pasagem__ da nosso temperamento colectivo, se isso existe. Como disse o Luís num post acima, o sucesso é garantido, pois todos participam, cada um superando o outro, até porque se se não tem vai-se buscar o primo, o tio, o vizinho, o cunhado do primo do sogro...
Pois uma semana depois estou bem melhor embora ainda ande de penso...
beijinhos
Zoe

WOLKENGEDANKEN disse...

:)) divertida a descripcao. Mas podes ficar descansada, outros povos tambem tem pessoas extremamente reconfortantes nestas situacoes !!

Zoe disse...

wolken, não me digas que os reservados austríacos também sabem consolar as pessoas à boa maneira tuga!